As novas medidas do Facebook: Como a rede social pretende se afastar da política

Com 2,7 bilhões de usuários no mundo todo, o Facebook é culpado por muitos distúrbios políticos e sociais. O surgimento da conspiração QAnon, por exemplo. Sua inação diante dos massacres de Rohingya em Myanmar em 2017 ou mais recentemente, diante dos trágicos acontecimentos no Capitólio, também nos Estados Unidos. 

As novas medidas do Facebook: Como a rede social pretende se afastar da política
Foto: (reprodução/AARON BERNSTEIN/REUTERS)

Como isso pode ser mudado? Esta é a pergunta que seu fundador Mark Zuckerberg se faz, sob pressão por vários meses após o boicote publicitário em 2020, pedindo-lhe que modere melhor as observações em sua plataforma, especialmente as que são racistas. 

Zuckerberg anunciou na quarta-feira (27) – durante a apresentação de excelentes resultados financeiros – que o conteúdo político não seria mais recomendado nas notícias dos usuários. 

Zuckerberg pretende “desencorajar conversas divisivas”, mas não “engajadas”: estas “podem ser uma forma de organizar movimentos de base, denunciar injustiças ou aprender com pessoas com perspectivas diferentes”, disse ele em sua própria página no Facebook.  

“A política tem esta tendência de interferir em todos os lugares, mas recebemos muito feedback de nossos membros que não o querem”, disse ele na quarta-feira. A outra questão agora é se isso pode ser feito.

Uma distopia virtual

Tecnicamente, sim, alterando seu algoritmo de recomendação, mesmo que a manobra seja complexa. “Ainda estamos trabalhando nas melhores maneiras de fazer isso”, o jovem bilionário rapidamente se esquivou. Ao remover “grupos” prejudiciais, também, mais de um milhão desapareceram da rede no ano de 2020, o fundador do Facebook se vangloriava. 

Finalmente, suspendendo ou mesmo proibindo figuras políticas importantes da plataforma, como Donald Trump, o ex-presidente americano que permanece suspenso na rede social desde a invasão ao Capitólio.

As novas medidas do Facebook: Como a rede social pretende se afastar da política
Moderadores de conteúdo do Facebook. Foto: (reprodução/internet)

Mas os objetivos de Mark Zuckerberg não poderiam ser alcançados sem um verdadeiro debate democrático. Para Fabrice Epelboin, professor da Sciences Po e especialista em mídias sociais, esta reviravolta do Facebook equivaleria a “privatizar a capacidade de se expressar sobre assuntos políticos”. 

Esta é uma mudança para uma “distopia” na qual a empresa americana será a única a definir o que é conteúdo político e o que não é. Um vasto programa. Mas uma que, de fato, já está em andamento. 

Medidas falhas, ódio disseminado

O resultado de uma pesquisa da associação de edições digitais, o The Markup, publicada há cerca de dez dias comprova que em dezembro, enquanto as eleições americanas ainda eram ferozmente contestadas pelos apoiadores do candidato republicano, “quase um quarto dos eleitores do Trump recebeu recomendações para se juntar a grupos políticos, enquanto os não eleitores não receberam nenhuma”.

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Os mesmos dados “mostram que o Facebook também continuou a recomendar grupos políticos durante todo o mês seguinte, inclusive depois de renovar sua promessa de não fazê-lo em 11 de janeiro”.

O The Markup continuou, apontando que “algumas das mensagens desses grupos continham teorias conspiratórias, apelos à violência contra funcionários públicos e discussões sobre a logística de assistir ao comício que precedeu o ataque ao Capitólio”.

As ações do Facebook

O Facebook, a fim de se afastar gradualmente da política, também deve olhar mais profundamente para sua influência real neste assunto. Em um post recente no blog, Sarah Clark Schiff, gerente de produtos do Facebook, disse que abriria aos pesquisadores informações sobre os anúncios que concorreram na rede social de 3 de agosto a 3 de novembro, durante a última campanha presidencial dos EUA

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“Em 1º de fevereiro, os pesquisadores terão acesso, pela primeira vez, a informações específicas para mais de 1,3 milhões de anúncios sociais, eleitorais e políticos através da plataforma Open Research & Transparency (FORT) disse Schiff.

“Ao tornar os critérios de segmentação, tais como localização e interesses, selecionados pelos anunciantes que estão concorrendo a anúncios sociais, eleitorais e políticos disponíveis para análise e relatórios, esperamos ajudar as pessoas a entender melhor as práticas usadas para alcançar os potenciais eleitores no Facebook“, disse a gerente. 

Traduzido e adaptado por equipe Folha BR
Fontes: L’Express.fr, Facebook