A rede social que contribuiu para os conflitos da Primavera Árabe há 10 anos agora pretende se afastar o máximo possível das lutas políticas para se concentrar em interações “positivas” e lucrativas, mesmo que 2021 esteja se formando para ser um ano de tensões com as autoridades e com empresas como a Apple.
O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou na quarta-feira (27) que a plataforma não recomendaria mais ativistas ou grupos políticos a seus usuários, uma medida já tomada nos Estados Unidos no ano passado, numa tentativa de acalmar as trocas no período que antecedem uma eleição tensa nos Estados Unidos.
Seu objetivo é acalmar o jogo e desestimular conversas divisivas, explicou ele durante a apresentação dos resultados trimestrais de seu grupo.
Eleições presidenciais, Brexit e violência
Desde a eleição de Donald Trump e do Brexit em 2016, o gigante das redes sociais tem vivido no ritmo da controvérsia política e do escândalo. Grandes setores da sociedade civil a acusam de servir de base para indivíduos e organizações que incitam à violência, desde a perseguição da minoria Rohingya da Birmânia até o recente assassinato do Professor Samuel Paty na França.
O CEO vê 2021 como um ano para inventar maneiras de criar oportunidades econômicas, construir comunidades e ajudar as pessoas apenas a se divertirem.
O grupo sediado na Califórnia teve quase US$ 86 bilhões em vendas no ano passado e obteve mais de US$ 29 bilhões em lucros, 58% a mais, apesar de muitos contratempos.
A política no Facebook
Em 2020, no início da pandemia, muitos anunciantes retiraram suas campanhas para revisar sua mensagem ou economizar dinheiro. No meio do ano, centenas de marcas boicotaram a rede para exigir melhor moderação do conteúdo odioso, na esteira das manifestações contra o racismo sistêmico nos Estados Unidos.
As ONGs e os funcionários eleitos de ambos os lados do corredor estão convocando a rede a assumir a responsabilidade, e o Facebook respondeu multiplicando as medidas para melhorar as trocas policiais e conter a desinformação, sem conseguir satisfazê-las.
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“Em setembro, anunciamos que tínhamos removido mais de um milhão de grupos em um ano”, disse Zuckerberg. Mas também há muitos grupos aos quais não queremos que as pessoas se juntem, mesmo que não quebrem nossas regras.
O crescimento em meio a tensões
Zuckerberg acrescentou que também estava procurando maneiras de reduzir a proporção de conteúdo político nas páginas dos usuários:
“A política tem esta tendência de se infiltrar em todos os lugares, mas recebemos muito feedback de nossos membros que não o querem”, disse ele, acrescentando que ainda seria possível participar de discussões engajadas.
Ao longo de 2020, a empresa vem destacando ferramentas e inovações que ajudaram grupos e pequenas empresas, duramente atingidas pela pandemia, a se comunicarem com seus clientes.
Eles ainda estão crescendo em número. Em 31 de dezembro, 2,6 bilhões de pessoas visitaram uma de suas quatro plataformas e serviços de mensagens (Facebook, Instagram, Messenger e WhatsApp) pelo menos uma vez por dia, e 3,3 bilhões pelo menos uma vez por mês (+14%), comercialmente, isto é um sucesso, graças em particular à explosão do comércio online durante a crise do COVID-19.
Apple na mira do Facebook
A plataforma está prevendo ventos de proa devido aos reguladores europeus determinados a controlar melhor o fluxo de dados pessoais, mas também por causa da Apple, o novo inimigo número um da rede.
“Cada vez mais vemos a Apple como uma de nossas maiores rivais”, disse Mark Zuckerberg.
Atacou seu vizinho em seu terreno preferido: a confidencialidade dos dados pessoais. De acordo com o bilionário, nesta área, o WhatsApp é superior ao envio de mensagens no iOS, o sistema operacional de dispositivos móveis da Apple.
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Ele culpa especialmente o fabricante do iPhone por sua decisão de logo forçar os desenvolvedores de aplicativos a pedir a permissão dos usuários para rastreá-los.
A Apple pode dizer que estão fazendo isso para ajudar as pessoas, mas isso claramente serve seus interesses, disse ele, acusando seu concorrente de favorecer suas próprias aplicações em seus smartphones e tablets, que são amplamente utilizados em todo o mundo.
Traduzido e adaptado por equipe Folha BR
Fontes: Radio Canada, Facebook