Facebook relatou que seus serviços foram “interrompidos” no país, exortando os militares a “restabelecer a conexão”. As autoridades disseram que a plataforma de mídia social – para muitos em Mianmar o único acesso à Internet – seria bloqueada por uma questão de “estabilidade”.
As chamadas para resistir estão crescendo, quatro dias após o golpe de Estado em Mianmar.
Três dias após o golpe que derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi, o acesso ao Facebook, amplamente utilizada em Mianmar para se comunicar, foi interrompido na quinta-feira (04).
Na segunda-feira, o exército terminou brutalmente a frágil transição democrática do país, prendendo Aung San Suu Kyi e outros líderes de seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (NLD). O estado de emergência foi declarado por um ano.
O chamado de resistência
A líder de 75 anos de idade, que está alegadamente sob prisão domiciliar na capital Naypyidaw de acordo com seu movimento, foi acusada de violar uma regra comercial obscura. O medo de represálias permanece elevado no país, que vive sob o jugo de uma ditadura militar há quase 50 anos desde sua independência em 1948.
Mas continuam a surgir sinais de resistência ao golpe, que tem sido fortemente condenado pela ONU, que apela para que a comunidade internacional se reúna para derrotá-lo.
Na quarta-feira à noite, no bairro comercial de Rangoon, a capital econômica, os moradores buzinaram e bateram em panelas pela segunda noite consecutiva, alguns gritando:
“Viva a Madre Suu! (Aung San Suu Kyi). Os profissionais de saúde assumiram a liderança no protesto, com dezenas de estabelecimentos em todo o país se recusando a trabalhar “sob autoridade militar ilegítima”.
Alguns protestaram usando fitas vermelhas com as cores da NLD, outros acenando a saudação de três dedos, um gesto de resistência já adotado por ativistas pró-democracia em Hong Kong e na Tailândia.
Internet indisponível
Grupos que pedem “desobediência civil” também foram criados no Facebook, a porta de entrada para a Internet para uma grande parte da população.
A empresa americana anunciou na quinta-feira (04) que alguns de seus serviços foram interrompidos, e ainda que ”Instamos as autoridades a restaurar a conexão para que as pessoas possam se comunicar com suas famílias e amigos e acessar informações importantes”, disse uma porta-voz da plataforma.
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As autoridades militares já emitiram um aviso à população para não dizer ou publicar nada que possa encorajar tumultos ou uma situação instável.
Aung San Suu Kyi
O chefe do exército, Min Aung Hlaing, que agora concentra a maior parte do poder, justificou seu golpe citando fraudes durante as eleições parlamentares de novembro, que foram vencidas esmagadoramente pela NLD, embora as eleições tenham sido realizadas sem grandes problemas, de acordo com observadores internacionais.
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Na realidade, os generais temiam que, apesar de uma constituição muito favorável a eles, sua influência diminuísse após a vitória de Aung San Suu Kyi, que é adorada em seu país, disseram os analistas.
Min Aung Hlaing, um pária internacional desde a crise de Rohingya, também derrubou o líder por ambição política pessoal quando ele estava perto da aposentadoria, de acordo com eles. O Prêmio Nobel da Paz de 1991 foi acusado de violar uma lei sobre importação e exportação, diz a NLD, depois que as autoridades encontraram walkie-talkies não-registrados em sua casa.
Uma acusação igualmente obscura foi apresentada contra o ex-presidente Win Myint, que foi processado por violar a lei de gestão de desastres do país por não cumprir com as medidas anti-coronavírus.
Traduzido e adaptado por equipe Folha BR
Fontes: 20 minutes, BBC