Polícia russa intensifica a pressão sobre líder da oposição Alexei Navalny e seus apoiadores

As buscas em casas e instalações acontecem antes das manifestações de apoio ao líder da oposição russo, Alexei Navalny, convocadas para o próximo domingo.

Polícia russa intensifica a pressão sobre líder da oposição Alexei Navalny e seus apoiadores
Foto: (reprodução/Getty Images)

Na quarta-feira (26), a polícia russa implantou um enorme aparelho de intimidação contra partidários e pessoas próximas ao principal líder da oposição, Alexei Navalny, sob custódia desde seu retorno à Rússia em 17 de janeiro.

 Seu irmão Oleg foi detido, sua esposa Yulia foi isolada no apartamento da família sem sequer poder entrar em contato com seu advogado, enquanto outras instalações ligadas à organização da Navalny ou seus apoiadores mais próximos também foram sujeitas a buscas policiais.

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Ivan Zhdanov, membro do Fundo Anti-Corrupção (FBK) criado por Navalny, escreveu no Twitter que as forças de segurança russas “arrombaram” a porta do apartamento de Oleg Navalny, irmão do líder da oposição, que foi preso. Ele já foi detido e depois libertado durante a manifestação realizada em Moscou no sábado passado.

A polícia, segundo Zhdanov, também foi ao apartamento onde Navalny costumava morar com sua família no bairro de Marino, em Moscou. Os oficiais entraram na propriedade e não permitiram que Yulia, a esposa do político da oposição, saísse enquanto a busca estava sendo realizada. Nem permitiram que sua advogada, Veronica Poliakova, entrasse na casa, de acordo com a própria advogada.

Tensões na capital russa

A Rádio Echo de Moscou na quarta-feira (27) também noticiou outra batida policial no apartamento da porta-voz da Navalny, Kira Yarmish, que foi condenada a 10 dias de prisão desde que foi presa no sábado em uma manifestação na capital russa exigindo liberdade para o principal oponente do presidente Vladimir Putin. Os oficiais também não permitiram que os advogados da Yarmish testemunhassem a busca.

Ações similares, de acordo com o Tribunal de Tverskoye de Moscou, estão planejadas em cerca de mais trinta casas de colaboradores da Navalny, embora a fonte judicial não tenha especificado nomes específicos. 

As buscas ocorreram em nada menos que quinze instalações e apartamentos, incluindo a sede do Fundo Anticorrupção, escreveu no Twitter Liubov Sóbol, um conhecido advogado e braço direito da Navalny, repetidamente multado e preso nas últimas semanas.

Opressão à oposição: Navalny X Putin

Estas abordagens ocorrem na véspera de novas manifestações de apoio à Navalny convocadas para o domingo e o pretexto é a suposta “violação das normas sanitárias” decretada para conter a pandemia da Covid-19. 

Ao mesmo tempo, continuam sendo abertos processos criminais contra muitos dos presos nas manifestações de sábado. De acordo com o Ministério do Interior russo, cerca de 4.000 pessoas foram presas naquele dia em quase 70 cidades russas onde se realizaram comícios.

Polícia russa intensifica a pressão sobre líder da oposição Alexei Navalny e seus apoiadores
Foto: (reprodução/Sergei Mikhailichenko/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

O Serviço Federal de Supervisão de Comunicações, Tecnologia da Informação e Meios de Comunicação de Massa, Roskomnadzor, anunciou duras sanções contra as redes sociais como Facebook, Instagram, Youtube, Twitter, Tik Tok e Vkontakte por supostamente incitarem menores a assistir aos protestos

Na capital russa, a manifestação de domingo foi convocada em frente à sede do Serviço Federal de Segurança (FSB, conhecido no passado como KGB).

Rússia protesta, governo repreende 

O secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, ex-chefe da FSB, disse esta semana que os países do Ocidente “procuram causar agitação social, greves e novas donzelas” (as revoltas na Ucrânia) com base, segundo ele, no “agitar do caso Navalny”, que ele considera um simples “criminoso (…) que deve ser levado à justiça por suas atividades ilegítimas”.

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A convocação de protestos no sábado passado ainda repercutem porque foi um sucesso com dezenas de milhares de manifestantes em todo o país e cerca de 50.000 em Moscou. Elas foram as maiores mobilizações na Rússia desde 2019. 

A última grande manifestação na capital russa aconteceu em 29 de setembro de 2019, para a libertação dos presos políticos, e reuniu cerca de 25.000 pessoas. O que acontece nos próximos meses será de grande relevância, pois as eleições legislativas devem ser realizadas no final do ano em um momento de evidente declínio do Kremlin.

O “voto inteligente”

Após cinco meses na Alemanha se recuperando do envenenamento que sofreu em agosto do ano passado na cidade siberiana de Tomsk, quando estava fazendo campanha pelo chamado “voto inteligente”, que consiste em votar no candidato, de qualquer partido, com as melhores chances de vencer o candidato designado pelo Kremlin, Navalny retornou à Rússia no domingo, 17 de agosto de 2020. 

Polícia russa intensifica a pressão sobre líder da oposição Alexei Navalny e seus apoiadores
Foto: (reprodução/Polina Ivanova/Reuters)

Ele foi detido assim que passou no controle de passaportes e no dia seguinte, o líder da oposição foi condenado a um mês de prisão preventiva enquanto aguardava uma decisão dos diversos tribunais onde foram instaurados processos contra ele sobre se ele irá ou não definitivamente para a cadeia.

No dia da audiência de julgamento, ele pediu a seus apoiadores que saíssem às ruas “não por mim”, disse ele, “mas por você, por seu futuro”. Mas as autoridades russas continuam a fazer todo o possível para desmobilizar seus apoiadores com ameaças, injunções às redes sociais para não espalhar apelos para manifestações e prender os associados mais próximos do líder da oposição.

Traduzido e adaptado por equipe Folha BR
Fontes: Hoy Espanã, Radio Echo Moscow