Centenas de pessoas participaram novamente neste domingo (31) de comícios e manifestações em várias cidades brasileiras para exigir o impeachment do Presidente Jair Bolsonaro, criticado por seu tratamento da pandemia que já levou mais de 223.000 vidas no país.
Cerca de 200 pessoas se reuniram no Eixo Monumental, no centro de Brasília, levando faixas com a leitura “Bolsonaro fora” ou “Impeachment agora”, enquanto um comboio de dezenas de carros expressou seu apoio.
“Como resultado desta má administração, ficamos com mais de 220.000 mortos, o que é suficiente com Bolsonaro, impeachment agora”, disse Ruth Venceremos, uma drag queen e ativista LGBT, à AFP.
O caos mostra a realidade do país
O sistema de saúde em Manaus, a capital do Amazonas, entrou em colapso há duas semanas, depois que o número de casos do vírus aumentou. A falta de oxigênio nos hospitais levou à transferência de mais de 350 pacientes para outros estados.
Alguns especialistas dizem que a crise ocorreu em parte por causa de uma nova variante do coronavírus – mais contagiosa – que foi detectada na Amazônia, mas muitos brasileiros culpam o governo por atrasos na tomada de medidas.
O governo Bolsonaro está sendo criticado por erros na gestão da crise sanitária e pela demora na vacinação, que começou há duas semanas com apenas 12,8 milhões de doses de duas vacinas (a CoronaVac chinesa e a AstraZeneca britânica), em um país de 212 milhões de pessoas.
O Presidente Bolsonaro também questionou a eficácia das vacinas e criticou as medidas de distanciamento social.
O futuro do Bolsonaro nas mãos dos parlamentares
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro tem manobrado para que homens sejam eleitos para dirigir as duas casas do Congresso na segunda-feira (01) para anular um impeachment e ser reeleito em 2022, mas ele corre o risco de pagar caro pelo apoio político que recebeu.
No Brasil, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado determinam as leis a serem votadas. Além disso, o chefe da Câmara decide sobre a admissibilidade de reclamações de impeachment.
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A gestão errática da pandemia do coronavírus, que causou quase 225.000 mortes no Brasil, corroeu a popularidade do presidente da extrema-direita. Sua taxa de aprovação caiu de 37% em dezembro para 31% em janeiro, enquanto a taxa de sua rejeição subiu de 32% para 40%, de acordo com o Datafolha.
Impeachment, eleição e protestos: Brasil sofre as consequências
A Câmara de Deputados recebeu 61 pedidos para destituir Jair Bolsonaro e agora há manifestações no país por sua saída, inclusive de grupos de direita que o apoiaram quando ele chegou ao poder há mais de dois anos.
“Ficarei nesta cadeira até o final de 2022”, disse Bolsonaro na quarta-feira (27), afastando a ameaça de impeachment.
A economia já anêmica do Brasil está sendo atingida pela pandemia e os mercados não querem a retomada do auxílio emergencial que manteve 68 milhões de pessoas pobres em pé em 2020, mas também esvaziou ainda mais os cofres. Pelo contrário, cresce a pressão sobre Jair Bolsonaro para relançar as reformas e privatizações.
E por tudo isso, ele precisa do apoio dos presidentes da Câmara e do Senado, que serão eleitos em uma sessão que começará no final da segunda-feira (01).
Política antiquada e decisão acirrada
Depois de ser filiado a uma miríade de partidos em 28 anos de deputado, Jair Bolsonaro chegou ao poder sob a bandeira da pequena PSL (direita), que ele finalmente deixou. Durante sua campanha, ele havia prometido pôr um fim à corrupção e às práticas da “política do estilo antigo”, como o “toma là, dà cà”, o apoio dos eleitos em troca de cargos no governo ou na administração em particular.
Mas Jair Bolsonaro se aproximou do “centrão”, um grupo heterogêneo de partidos conservadores que dominam a vida política há décadas e negociam seus votos de acordo com as circunstâncias e as vantagens que podem obter.
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Na Câmara dos Deputados, Bolsonaro apoia Arthur Lira do Partido Progressista (PP, de direita). Entre outros dons, ele pendurou três carteiras no “centrão”, incluindo a Cultura, que teria um ministério.
O principal adversário de Lira é Baleia Rossi do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que se aliou a quase todos os governos de esquerda ou direita desde o fim da ditadura militar em 1985.
Traduzido e adaptado por equipe Folha BR
Fontes: Journal de Montreal, Datafolha, AFP