Os militares tomaram o poder na nação do sudeste asiático na segunda-feira após prenderem a líder política Aung San Suu Kyi e centenas de outros legisladores. Desde então, os líderes golpistas formaram um conselho superior que terá assento acima do gabinete.
Diante da impulsividade de Donald Trump, dos cálculos “sóbrios” de Joe Biden e da lenta burocracia internacional. Três dias depois que a junta militar de Myanmar cortou linhas telefônicas e de internet, deteve líderes democráticos e líderes da sociedade civil e declarou um estado de emergência de um ano para tomar o poder dos três ramos do governo.
O Departamento de Estado dos EUA “estudou cuidadosamente os fatos” para determinar que isso constituía “um golpe”, um porta-voz anunciado em uma teleconferência.
Repercussão internacional
Em sua determinação de “consultar os aliados na região e no mundo”, explicou a administração Biden, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu na terça-feira (03) sem tomar nenhuma medida, dada a oposição da China, que considera intervencionismo nos assuntos internos de seu aliado. A Rússia e o Japão também desaprovam a intervenção da ONU em sua região.
A administração Biden está considerando sanções unilaterais que teriam pouco impacto, primeiro porque os quatro principais líderes da junta militar que tomou o poder já foram sancionados pela lei Magnisky pelo genocídio dos Rohingyas, e segundo porque os EUA não têm muita atividade econômica com Mianmar.
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Minimizar o existente só empurraria este país ainda mais para a China, de quem ele depende. A esse respeito, o porta-voz do Departamento de Estado admitiu que seu governo não teve nenhum contato com a China sobre essa questão. Provavelmente em nenhum outro, já que Xi Jinping não está entre os líderes com os quais o novo presidente falou. Na verdade, ele levou 23 dias para reconhecer sua vitória nas eleições de novembro.
A crise de Mianmar
Ministros foram demitidos pelo exército, que criou um gabinete com onze departamentos, e cerca de 400 deputados permanecem em prisão preventiva.
Eles estão exigindo saber o paradeiro de Suu Kyi.
O partido de Aung San Suu Kyi exigiu ontem, em vão, a libertação de todos os detentos e explicações sobre o paradeiro de seu líder e do presidente da República, Win Myint. A posição oficial é que eles estão “sob prisão domiciliar”, mas nenhuma outra informação foi liberada sobre o local ou o estado de saúde dos dois.
Golpe militar e eleições fraudadas
Os militares justificam o golpe em uma suposta fraude eleitoral que foi negada mesmo pelos observadores das eleições de novembro, onde o presidente “de fato” varreu mais de 80% dos eleitores.
Sem dentes, a enviada especial da ONU, Christine Schraner Burgener, instou o Conselho de Segurança na terça-feira a enviar “um sinal claro em apoio à democracia em Mianmar”, mas os 15 membros não conseguiram chegar a um acordo na terça-feira.
A Human Rights Watch apelou ao órgão da ONU que supervisiona a paz e a segurança internacional para exigir a libertação de todos os líderes políticos e ativistas detidos e a restauração do governo civil democrático, emitindo sanções contra os líderes militares.
Em sua opinião, foi “a falha abismal” deste órgão em abordar os abusos dos direitos humanos dos militares que os fez acreditar, em primeiro lugar, “que eles poderiam agir como desejavam sem conseqüências graves”. E o silêncio do Conselho de Segurança na terça-feira, eles podem estar certos.
O destino dos Rohingyas
A ONU está preocupada com o destino dos 190.000 muçulmanos Rohingya deslocados internamente – quase um milhão vivem em campos de refugiados em Bangladesh – especialmente porque a junta militar cancelou até o final de abril todos os vôos para Mianmar, incluindo os que transportam ajuda humanitária.
Além disso, cerca de 600.000 Rohingyas permanecem confinados em aldeias e campos de concentração no estado de Rakhine, em condições opressivas que merecem acusações de crimes contra a humanidade.
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De certa forma, Mianmar e os EUA seguiram caminhos paralelos ao realizar eleições no início de novembro, cujos líderes foram descritos como fraudulentos. Somente a força das instituições norte-americanas e a neutralidade do Pentágono favoreceram o governo que saiu das urnas para assumir o poder, algo que a junta militar do país asiático não tem sido capaz de tolerar.
Mianmar retorna à ditadura militar
Os observadores internacionais reconhecem que houve irregularidades no processo que, no entanto, não alteraram o resultado nas eleições do país.
“Sejamos claros, o resultado das recentes eleições foi uma vitória para a Liga Nacional para a Democracia, que ganhou mais de 82% dos assentos parlamentares”, disse o enviado especial do Secretário Geral da ONU para o país.
O destino da líder do Conselho de Estado de Myanmar, Aung San Suu Kyi, que trabalhou para a ONU por três anos e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1991, é mais uma vez o da detenta.
Traduzido e adaptado por equipe Folha BR
Fontes: Hoy Espanã, BBC