A mineradora Vale segue tentando deixar para trás o rompimento da barragem em Brumadinho. A tragédia que aconteceu no município de Minas Gerais, em 25 de janeiro de 2019, acarretou 259 mortos e 11 desaparecidos.
O rompimento da mina também deixou uma destruição ambiental causada pela avalanche de lama. Depois de dois anos, a imagem da mineradora não foi revertida e os impactos também vieram sobre suas ações no mercado financeiro. Alguns especialistas consultados pelo InfoMoney falaram sobre o assunto.
Vale: retrospectiva dos impactos em Brumadinho
No mesmo dia da tragédia em Brumadinho, os American Depositary Receipts (ADRs) da Vale caíram 8% nos EUA. Fora do Brasil, ainda era desconhecida a proporção do rompimento da Mina Córrego do Feijão.
Na época, as projeções e recomendações para os papéis da Vale eram negativas já que a reputação da mineradora ficou manchada com o desastre. Consequentemente, a posição da empresa no mercado foi diretamente afetada.
Enquanto isso, no Brasil as ações da Vale despencaram 24,5% o que gerou um prejuízo de R$ 72 bilhões no valor de mercado da companhia. Apenas um ano depois, os preços dos ativos da mineradora voltaram aos níveis anteriores à crise, de R$ 56.
Mineradora volta a pagar dividendos
Posteriormente, a Vale retomou o pagamento de dividendos com a economia de minério de ferro registrando crescimento de 74% em 2020. O aumento do valor da commoditie para US$ 160 por tonelada refletiu positivamente nas ações da empresa.
Entretanto, a tragédia de Brumadinho continuou repercutindo nos negócios da mineradora principalmente após alguns executivos saírem da companhia. Fatores como processos judiciais e suspensão da produção também assombraram a Vale. Para 2021, as incertezas continuam.
Vale não faz acordo com Minas Gerais
Para este ano, a expectativa dos investidores era que a mineradora fizesse um acordo com o governo de Minas Gerais sobre a reparação de danos causados. Entretanto, na última reunião as partes não chegaram a um consenso.
Segundo Mateus Simões, secretário-geral do governo do estado, a proposta de reparação apresentada pela Vale foi rejeitada. Além disso, as audiências para acordo encerraram. Desse modo, caso nenhuma outra proposta seja apresentada o processo seguirá a tramitação normal. Será atribuição do Juiz da ação determinar as condições da reparação.
A Reuters informou que companhia ofereceu R$ 29 bilhões ao governo de Minas Gerais, após a estado reduzir o valor de R$ 54 bilhões para R$ 40 bilhões. Esse montante foi considerado insuficiente para amparar todos os danos causados pelo rompimento da mina.
Governo se manifesta sobre reparação de danos
O secretário-geral de Minas Gerais também declarou que o governo do estado não irá fazer um leilão para estabelecer o valor do acordo. Conforme Mateus Simões, as propostas apresentadas por MG representaram um montante minimamente suficiente para recompor os danos da tragédia.
Também, o secretário-geral afirmou que a abordagem dos representantes da Vale soa como se a mineradora estivesse presentando o estado. Segundo Simões, cabe à companhia escolher como enfrentará o acontecido, assumindo a tragédia causada e resolvendo reparar os prejuízos na região ou não.
Analistas avaliam quadro da empresa
Com os impasses nas negociações, os analistas do mercado pesam na balança a tensão entre a Vale fechar um acordo razoável e o tempo de duração do processo sem o consenso entre as partes.
Neste cenário, o que pode ser uma desvantagem para a imagem da mineradora é a crítica do governo de Minas Gerais sobre a postura dos representantes da companhia diante do maior desastre ambiental do país.
Para o Morgan Stanley, os impactos dessa situação ainda continuarão afetando financeiramente a empresa impactando inclusive o valor das ações. Por outro lado, os analistas do Bradesco BBI apontam que a demora no acordo é uma estratégia de negociação da Vale.
Demora na negociação afetará as ações
Entretanto, a demora na negociação pode ser um tiro no pé já que a ausência de acordo sinaliza uma possibilidade menor do consenso ocorrer, servindo de desmotivação aos investidores.
Já os especialistas do Credit Suisse afirmaram que o acordo é fundamental para reclassificar as ações da mineradora. Além disso, as recentes altas do minério de ferro colaborariam para a recuperação dos prejuízos originados com toda a tragédia.
Acordo é importante para ambas as partes
Diferente das outras opiniões, a Levante Ideias de Investimentos afirmou que o desacordo entre a Vale e o governo de MG é prejudicial para as duas partes. Isto porque o dinheiro da reparação viria em uma hora de crise financeira no estado.
Enquanto para a Vale, a demora no encerramento da questão pode continuar perpetuando nas negociações da empresa. Afinal, a dívida reparatória perante o estado é um fator de peso tanto no mercado doméstico como no internacional.